No contexto atual, caracterizado por tantas mudanças sociais e digitais, foi publicado o artigo ‘“É tempo de co-criação?”: Percepções de pessoas idosas em programas públicos de inclusão digital’, escrito pela Doutora Tássia Chiarelli e pela Doutora Samila Sathler Tavares Batistoni. O artigo lança luz sobre a importância de escutar as percepções das pessoas idosas na formulação e avaliação de políticas públicas.
Publicado na Revista Kairós-Gerontologia, o estudo analisou cinco municípios participantes do Programa Viver – Envelhecimento Ativo e Saudável, uma iniciativa pioneira no Brasil que promove a inclusão digital entre pessoas idosas. Por meio de grupos focais, foram levantados pontos fortes, desafios e sugestões de melhoria para os cursos oferecidos, destacando o papel da co-criação como uma estratégia essencial para tornar as políticas públicas mais efetivas.
O estudo revelou que as maiores motivações das pessoas idosas para participar dos cursos de inclusão digital incluem a busca por novas aprendizagens e o desejo de superar a sensação de estarem ultrapassadas. Além disso, foram destacados benefícios como o desenvolvimento de novas habilidades tecnológicas, a socialização e a melhoria da autoestima.
Ao longo do artigo, foram apresentados trechos das falas das pessoas idosas participantes dos grupos focais. Além de tornar a leitura mais sensível, isso contribui para dar voz as pessoas idosas e sua participação na sociedade. Veja alguns trechos:
"Nem sempre dá para gente estudar, somos pobres, não somos ricos, não tinha aquela condição de estudar, então, voltar a estudar é quase um milagre. Porque eu cresci ouvindo que pobre não estuda. E eu concordava com isso” (resposta de participante).
Acho que isso gera a saúde mental, né? Porque são coisas novas e que a gente jamais na vida da gente pensou que um dia a gente ia captar isso. A gente vivia praticamente fora do mundo, né? Fora do mundo. E aprender a mexer na internet é onde você começa a ser gente” (resposta participante).
Por outro lado, os desafios incluem a duração limitada dos cursos e a falta de módulos avançados, que dificultam a continuidade do aprendizado. Para as autoras, é essencial investir em estratégias de aprendizado ao longo da vida, com trilhas educacionais que atendam às necessidades locais e sejam planejadas com a participação ativa das pessoas idosas.
Um dos grandes diferenciais do estudo foi ressaltar a importância da co-criação. Quando as próprias pessoas idosas participam do planejamento e avaliação das iniciativas, as soluções tendem a ser mais aderentes às suas realidades, promovendo maior engajamento e eficiência.
Nesse sentido, o artigo destaca propostas como a oferta de novos módulos tecnológicos, o aumento do tempo de aula e até mesmo a criação de um Núcleo de Preocupação, uma iniciativa sugerida para monitorar e apoiar pessoas idosas que frequentam os cursos, especialmente aqueles em situação de maior vulnerabilidade e isolamento social.
Veja o fluxo de trabalho, sugerido no artigo:
O artigo reforça a urgência de uma abordagem inclusiva e personalizada para a inclusão digital, considerando as singularidades culturais e sociais de cada localidade. Ao valorizar o protagonismo das pessoas idosas, essas políticas não apenas promovem a inclusão digital, mas também fortalecem sua autonomia e cidadania.
Quer saber mais? Leia o artigo completo na Revista Kairós-Gerontologia.