O cuidado é parte fundamental da vida de todas as pessoas. No entanto, a maneira como ele é organizado na sociedade gera uma distribuição desigual de responsabilidades, sobrecarregando especialmente as mulheres, sobretudo negras e de baixa renda.
No Brasil, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua 2022 revelou que, em média, são dedicadas 17 horas semanais a afazeres domésticos e ao cuidado de pessoas. Contudo, as mulheres acabam assumindo quase o dobro do tempo nessas atividades não remuneradas em comparação aos homens.
E não para por aí: mulheres de 60 a 69 anos dedicam, em média, 24 horas semanais a esses trabalhos, enquanto mesmo as mulheres de 80 anos ou mais ainda alocam 17 horas semanais. Embora seja reconhecido o papel das mulheres idosas no cuidado, permanece o questionamento: elas são cuidadas?
É urgente transformar a maneira como o cuidado é percebido e valorizar essa atividade econômica essencial. Esse trabalho, que sustenta a vida, precisa de maior reconhecimento e apoio.
O cuidado é uma necessidade universal, mas permanece amplamente invisível e desvalorizado. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 16,4 bilhões de horas são dedicadas diariamente ao trabalho de cuidado não remunerado no mundo.
No Brasil, um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), com base nos dados da PNAD-C 2022, revelou que as mulheres representam a maioria nas ocupações de cuidado remunerado, principalmente no trabalho doméstico. Elas constituem 91% das trabalhadoras do setor, e 75% das profissionais relacionadas à educação, saúde e serviços sociais. A maioria são mulheres negras, que enfrentam condições precárias de trabalho, com baixa remuneração e pouca ou nenhuma proteção social.
Essas responsabilidades desproporcionais afetam a capacidade das mulheres de participar integralmente do mercado de trabalho, como explicou o diretor do Escritório da OIT no Brasil, Vinícius Pinheiro. Ele destacou que políticas de cuidado devem ser vistas como um investimento, pois não apenas geram empregos, mas também permitem maior participação feminina na economia, o que promove crescimento e equidade social.
Nos últimos anos, diversas crises tornaram urgente a necessidade de um olhar atento ao setor de cuidados. O envelhecimento populacional, as mudanças climáticas e, especialmente, a pandemia de COVID-19 evidenciaram o aumento da demanda por cuidados. Esses eventos destacaram os desafios enfrentados, principalmente pelas mulheres, para equilibrar essas responsabilidades com oportunidades de emprego e autonomia econômica, já que elas continuam sendo as principais responsáveis por suprir essa demanda crescente.
A Gerontóloga Tássia Chiarelli preparou um texto que busca refletir e estimular a empatia sobre o cuidado, que foi transformado em vídeo. Nele, ela aborda o cuidado em diversas esferas: nas famílias, em instituições e na sociedade como um todo. Assista ao vídeo e reflita sobre como cada um de nós pode desempenhar um papel nessa causa:
É preciso cuidar do cuidado
Para superar a crise dos cuidados, é necessária uma reestruturação que promova a corresponsabilidade social e de gênero. Isso inclui reconhecer, redistribuir, reduzir, recompensar e representar o trabalho de cuidado, sob uma perspectiva de direitos humanos, igualdade de gênero e diversidade.
Ela reconhece a importância de valorizar o trabalho de cuidado e o papel essencial desempenhado tanto por cuidadores remunerados quanto por aqueles que trabalham de forma não remunerada, especialmente na atenção a crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência.
Essa data é um chamado à ação global, convidando toda a sociedade a colaborar para uma mudança transformadora na forma como o cuidado é organizado e percebido.
Fonte consultada: Nações Unidas Brasil.